Texto original do Listverse e Natasha Romanzoti
A crença no inferno é popular e faz parte da percepção básica da religião na cultura cristã. No entanto, alguns dizem que a evidência de tal castigo eterno é praticamente inexistente. Confira os dez argumentos abaixo e diga o que você acha:
10. A Bíblia mal menciona algo como o inferno
De acordo com Romanos 6:7, “todo aquele que morreu já foi justificado do pecado”. Se os pecados de uma pessoa são apagados com a sua morte, por que existir a punição adicional do inferno?
Romanos 6:23 prossegue, afirmando que “o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna por intermédio de Cristo Jesus, nosso Senhor”. Note que não há nenhuma menção dos pecadores sendo condenados à tortura eterna; eles simplesmente não recebem a recompensa por uma vida justa.
Da mesma forma, 2 Tessalonicenses 1:9 diz que “Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação permanente da presença do Senhor e da majestade do seu poder”. Ou seja, a punição para aqueles considerados ímpios não é tortura de fogo, mas a destruição.
João 3:36 afirma algo parecido. “Quem crê no Filho tem a vida eterna; aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele”.
Enquanto isso, Judas 1:7 menciona “fogo eterno”, mas apenas no contexto de Sodoma e Gomorra, literalmente destruídas pelo fogo eterno da ira de Deus.
Algo remotamente parecido com a visão de “inferno” da cultura popular aparece em breves menções no Livro do Apocalipse e duas das parábolas de Cristo. Mas se um lugar de tormento eterno foi realmente concebido como um componente integral do cristianismo, não é estranho que a Bíblia nunca parece prestar atenção a ele?
9. Interminável castigo não faz sentido bíblico
De uma perspectiva cristã, a ideia do inferno não é apenas cruel e incomum, bem como totalmente excessiva. Será que um Deus descrito na Bíblia como verdadeiro, justo e correto aprovaria algo como punição eterna?
1 João 4:8 diz que “Aquele que não ama não conhece a Deus, porquanto Deus é amor”. Será que um Deus que é o próprio conceito de amor torturaria eternamente um filho Seu como castigo, mesmo que ele tivesse feito algo ruim?
Deuteronômio 19:21 afirma: “Portanto, não considerarás com piedade esses casos: alma por alma, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé!”. Tal sanção de igualdade parece um pouco fora de sincronia com a ideia de uma angústia literalmente infinita.
O inferno popular parece ainda mais bizarro depois de considerar as palavras de Deus em Jeremias 7:31: “Eles construíram o alto de Tofete no vale de Ben-Hinom, a fim de queimarem seus próprios filhos e filhas como holocausto, sacrifício que jamais ordenei e nem sequer pensei em requerer”. Se a ideia de seres humanos sendo queimados é tão desagradável para Deus que nunca sequer entrou em Seus pensamentos, o que diria Ele então do inferno?
8. Muitas referências ao inferno foram erros de tradução
Quando se trata de equívocos sobre o inferno, a popular versão da Bíblia do rei Jaime, do século 17, é campeã. Nela, o profeta Jonas esteve na “barriga do inferno”, enquanto Davi insiste que Deus estaria com ele mesmo no inferno. Até Jesus aparece no inferno após a sua morte na cruz. Isto, obviamente, não faz sentido.
A Bíblia afirma repetidamente que o inferno, o que quer que seja, envolve a separação de Deus. Então, por que Jesus aparece por lá e Davi está tão seguro de que Deus estaria com ele lá?
A resposta é que essa versão traduziu um monte de diferentes palavras gregas e hebraicas sob o termo “inferno”. As palavras em questão são Hades, Sheol, Tártaro e Geena, com significados muito diferentes em seu contexto original. Por exemplo, Hades e Seol, que são palavras mais ou menos equivalentes em grego e hebraico, não podem nem razoavelmente ser traduzidas como “lugar de tormento”, algo que a palavra “inferno” geralmente implica. Uma tradução melhor seria “sepultura” ou “vida após a morte”. Esses termos sequer carregam um juízo de valor como o do “inferno”, uma vez que somente os ímpios vão para o inferno, mas todas as almas vão para Sheol após a morte.
A Nova Versão Internacional da Bíblia faz uma referência muito menos dramática de certas passagens. Ela se refere ao inferno somente 15 vezes, em comparação com 54 menções na Bíblia do rei Jaime. Ainda assim, muita confusão e desentendimento foram causados pelos primeiros tradutores da Bíblia.
7. Geena é controversa
Já explicamos que “Hades” e “Sheol” não correspondem à percepção moderna do inferno. “Tártaro” é também ocasionalmente traduzido como “inferno”, mas o termo só aparece uma vez na Bíblia, e não em relação aos seres humanos, por isso tem pouca relevância. E quanto à “Geena”?
Esse é certamente o termo bíblico mais traduzido como “inferno”. Por exemplo, a Nova Versão Internacional de Mateus 5:30 afirma: “E, se tua mão direita te fizer pecar, corta-a e atira-a para longe de ti; pois te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno”. Assustador, não? Tudo se resume à controvérsia sobre o significado exato de “Geena” expressa aqui como “inferno”.
A palavra em si é uma tradução grega dos termos hebraicos “ge-hinnom” e “ge-ben-hinnom”, que significam “vale dos filhos de Hinom” e se referem a um vale real próximo a Jerusalém antiga. O vale aparece pela primeira vez no Antigo Testamento como a localização de sacrifícios pagãos de crianças, que continuam pelo menos até 2 Reis 23:10, que descreve como Josias destruiu o lugar de tal ordem que “ninguém mais conseguiu sacrificar ali seus filhos e filhas, queimando-os em adoração ao deus Moloque, como era costume se fazer”.
Uma explicação é que, na época de Jesus, o termo Geena foi aparentemente usado metaforicamente para se referir a um lugar de destruição. É interessante notar que o hebraico não tem nenhuma palavra para tal conceito e Jesus aparentemente não sentiu necessidade de introduzir um, preferindo fazer alusões históricas.
Ou então, segundo alguns estudiosos, o vale de Geena tornou-se de fato um lugar essencialmente incinerador na época de Cristo. Ele constantemente consumia o lixo da cidade e os corpos de criminosos e desonrados. Esta tradição é bastante antiga, mas não é suportada por qualquer evidência ou relatos antigos. Em qualquer caso, nenhuma das referências de Cristo a Geena sugerem qualquer tipo de tormento eterno. Remover os injustos da existência, como os versículos sugerem, não soa particularmente parecido com torturá-los para sempre.
6. Jesus não inventou parábolas sobre o inferno