O homem pode propagar e celebrar o Espírito Divino mas somente através da mulher o espírito se faz carne. É ela quem capta a centelha divina em seu ventre, a protege e alimenta e, finalmente, a gera na realidade. Ela é o vaso da transformação.
De maneira semelhante, suas mãos se unem para segurar o livro da profecia; ela aceita a Palavra com todo o seu ser. A touca ou coroa esconde os cabelos da mulher, sua “glorificação”, símbolo da atração sexual e de poder de sedução.
Atrás da Papisa estendeu-se um grande véu ou cortina sustentada por dois pilares, é evidente que ela está sentada à entrada de alguma coisa — talvez um templo ou santuário íntimo, de cujos mistérios é a guardiã.
Ela está quase enraizada no lugar, provavelmente sentada, imóvel. Sentimos que sempre esteve ali sentada e assim continuará até o fim dos tempos. Ao passo que o chapéu e a varinha do Mago sugerem ação e experiência, a tiara e o livro dela indicam contenção e tradição. Em contraste com a liberdade do Mago no espaço, os pilares da Papisa marcam as limitações da dura realidade.
O poder do Mago é o fogo: o poder quente, brilhante, rútilo do sol. O poder da Papisa é a água: o poder frio, escuro, fluido da lua. Ela controla por meio da força rápida, do conhecimento e da ideia. Ela governa pela lenta persistência, pelo amor e pela paciência feminina.
Os pilares reiteram a dualidade expressa no número dois da Papisa. Sua essência é o paradoxo. Ela abrange tudo, abarca assim o bem como o mal — até a vida e a morte. Ela, que é a mãe da vida, também preside à morte, já que tudo o que vive na carne precisa, um dia, morrer na carne. Somente a luz não confirmada do puro espírito é imortal.
A magia do Mágico, como o seu sexo, está na frente. A magia da Papisa, velada e oculta como os seus cabelos, está escondida pelas cortinas atrás dela? Onde quer que esteja escondido, o segredo da mulher, como o da natureza, permanecerá sempre oculto a penetração da consciência masculina.
Sentimos que o poder do Mago está, de certo modo, sob o seu controle consciente, que ele pode “usar de franqueza”. Não é este o caso da Papisa: a natureza da sua magia está escondida até mesmo dela. Acontece, em parte, “nas suas costas”, como está representado. Guardiã do nascimento e do renascimento, ela nos guarda, mas não os controla.
Assim, bem-aventurada a mãe, pois o Santo Espírito de Jesus vive nela, que com gosto assume todos os deveres do amor aos quais todos os jovens têm direito desde que nascem. E seu amor não quer asas, tão pesadas! Não liberdade, nem pensamento, nem consciência, nem ação; quer apenas todas as correntes; seus fardos, como são leves!
(O Arqueômetro)