Embora algumas dessas percepções tenham sido úteis na defesa da liberação, tanto feminina como masculina, dos modelos patriarcais, acreditamos existir nelas sérios problemas. A nosso ver, o patriarcado não é a expressão de uma profunda e enraizada masculinidade, pois esta não é agressiva. O patriarcado é a expressão da masculinidade imatura. É a expressão da psicologia do Menino e, em parte, o lado sombra — ou louco — da masculinidade. Expressa o homem atrofiado, fixado em níveis imaturos.
O patriarcado, em nossa opinião, é uma agressão a masculinidade na sua plenitude, assim como a feminilidade no seu todo. Os que se prendem às estruturas e à dinâmica desse sistema buscam dominar igualmente homens e mulheres. O patriarcado fundamenta-se no medo masculino — o medo do menino, o medo do homem imaturo — em relação às mulheres, certamente, mas também em relação aos homens. Os meninos temem as mulheres. E temem também os homens de verdade.
O patriarca não aceita o pleno desenvolvimento masculino de seus filhos ou de seus subordinados, da mesma forma que não acolhe com prazer o desenvolvimento pleno de suas filhas ou de suas funcionárias. É a história do chefe no escritório que não suporta ver o quanto somos bons. Quantas vezes nos invejam, odeiam e atacam de forma direta e passiva quando buscamos revelar o que realmente somos em toda a nossa beleza, maturidade, criatividade e produtividade! Quanto mais nos tornamos belos, competentes e criativos, parece que mais hostilidade despertamos em nossos superiores, e até me nossos colegas. O que realmente nos agride é a imaturidade nos seres humanos, aterrorizados com os nosso avanços no caminhos rumo à plenitude do ser masculino ou feminino.
O que está faltando não é, em geral, o que muitos psicólogos supões; isto é, a ligação adequada com o lado feminino interior. Em muitos casos, esses homens que vêm buscar ajuda foram, e continuam sendo, esmagados pelo feminino. O que lhes faltou foi a ligação adequada com as energias masculinas profundas e instintivas, com o potencial da masculinidade amadurecida. Tiveram essa ligação bloqueada pelo próprio patriarcado, e pela crítica feminista a pouca masculinidade que ainda lhes restava. E estavam sendo bloqueados pela falta, em suas vidas, de qualquer processos de iniciação transformador e significativo através do qual pudessem alcançar um sentido da masculinidade.
Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir ter o que não se tem. O primeiro refere-se a uma presença, o segundo a uma ausência. Mas é mais complicado, pois simular não é fingir. Aquele que finge uma doença pode simplesmente meter-se na cama e fazer crer que está doente. Aquele que simula uma doença determina em si próprio alguns dos respectivos sintomas. Logo fingir, ou dissimular, deixam intacto o princípio da realidade: a diferença continua a ser clara, está apenas disfarçada, enquanto que a simulação põe em causa a diferença do “verdadeiro” e do “falso”, do “real” e do “imaginário”. O simulador está ou não doente, se produz “verdadeiros” sintomas? Objetivamente não se pode tratá-lo nem como doente nem como não doente.
Simulamos que somos pessoas maduras
O imaginário da Disneylândia não é verdadeiro nem falso, é uma máquina de dissuasão encenada para regenerar no plano oposto a ficção do real. Daí a debilidade desde imaginário, a sua degenerescência infantil. O mundo quer-se infantil para fazer crer que os adultos estão noutra parte, no mundo <<real>>, e para esconder que a verdadeira infantilidade está em toda a parte, é a dos próprios adultos que vêm aqui fingir que são crianças para iludir a sua infantilidade real.
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O traficante de drogas, o líder político indeciso, o marido que bate na mulher, o chefe eternamente ranzinza, o jovem executivo metido a importante, o marido infiel, o funcionário “capacho”, o orientador de pós-graduação indiferente, o pastor “santificado”, o membro da gangue, o pai que nunca encontra tempo para participar das programações na escola da filha, o treinador que ridiculariza seus atletas talentosos, o terapeuta que inconscientemente agride o “brilho” de seus cliente e busca para eles uma espécie de normalidade opaca — todos esses homens tem alguma coisa em comum. São, todos, meninos que fingem serem homens. Ficaram assim honestamente, por que ninguém lhes mostrou o que é um homem amadurecido.
O Tipo de “adulto do sexo masculino” que eles representam é uma pretensão que a maioria de nós quase não percebe como tal. Estamos continuamente confundindo o comportamento controlador, ameaçador e hostil desse homem com a força. Na verdade, ele está mostrando que no fundo é extremamente vulnerável e fraco, que tem a vulnerabilidade do menino magoado.
A terrível realidade é que a maioria dos homens está fixada num nível imaturo de desenvolvimento. Esses primeiros níveis são governados por modelos interiores próprios da meninice. Quando se permite que eles controlem o que deveria ser a idade adulta, quando os arquétipos da infância não são elaborados e transcendidos pelo acesso adequado do Ego aos arquétipos da masculinidade amadurecida, eles nos fazem agir segundo a nossa própria criancice oculta (para nós, porém raramente para os outros).
Na nossa cultura, frequentemente falamos da infantilidade com afeto. A verdade é que o menino em cada um de nós — quando ocupa o seu lugar apropriado em nossas vidas — é uma fonte de brincadeiras, de prazer, de diversões, de energia, de uma espécie de liberalismo, que está pronto para as aventuras e para enfrentar o futuro. Mas existe outro tipo de infantilidade que interfere nas nossas interações com nós mesmos e com as outras pessoas quando é necessário ser adulto.