Se você não acredita em signos, esoterismos, tarô e assuntos do gênero, esse texto não é para você. Esse texto é para aqueles que acreditam em todas essas coisas, para que possamos fazer uma reflexão realista sobre o meio.
O trecho abaixo, é de autoria de Carl Seagan, extraído do livro “O Mundo Assombrado por demônios:
Os tratamentos científicos são centenas ou milhares de vezes mais eficazes que os alternativos. (E inclusive quando parece que as alternativas funcionam, não sabemos se realmente tiveram algum papel: Podem produzir-se remissões espontâneas, inclusive do cólera e a esquizofrenia, sem oração e sem psicanálise). Abandonar a ciência significa abandonar muito mais que o ar condicionado, o aparelho do CD, os secadores do cabelo e os carros rápidos.
Se quisermos que o mundo escape das temíveis consequências do crescimento da população global e dos dez mil ou doze bilhões de pessoas no planeta a finais do século XXI, devemos inventar métodos seguros e mais eficientes de cultivar mantimentos, com o conseguinte abastecimento de sementes, irrigação, fertilizantes, pesticidas, sistemas de transporte e refrigeração. Também se necessitarão métodos contraceptivos amplamente disponíveis e aceitáveis, passos significativos para a igualdade política das mulheres e melhoras nas condições de vida dos mais pobres. Como pode conseguir-se tudo isso sem ciência e tecnologia?
Os avanços na medicina e agricultura salvaram muitas mais vidas que as que se perderam em todas as guerras da história. A espada da ciência tem dois gumes, seu temível poder impõe a todos, incluídos os políticos, mas certamente especialmente aos cientistas, uma nova responsabilidade: mais atenção às consequências a longo prazo da tecnologia, uma perspectiva que ultrapasse as fronteiras dos países e gerações e um incentivo para evitar as chamadas fáceis ao nacionalismo e o chauvinismo. O custo dos enganos começa a ser muito alto. Interessa-nos a verdade? Tem alguma importância? … onde a ignorância é uma benção é uma loucura ser sábio, escreveu o poeta Thomas Gray. Mas é assim? Edmund Way Trade, em seu livro de 1950 Círculo das estações, expôs melhor o dilema: Moralmente é tão mau não querer saber se algo é verdade ou não, sempre que permitir sentir-se bem, como o é não querer saber como ganha o dinheiro sempre que se consiga.
Por exemplo, é desanimador descobrir a corrupção e a incompetência do governo, mas é melhor não saber nada disso? A que interesses servem à ignorância? Se os humanos tiverem, por exemplo, uma propensão hereditária ao ódio aos forasteiros, não é o autoconhecimento o único antídoto? Se ansiarmos acreditar que as estrelas saem e ficam para nós, que somos a razão pela que há um universo, é negativo o serviço que nos empresta a ciência para rebaixar nossas expectativas?
Simplesmente, não há volta atrás. Nós gostemos ou não, estamos atados à ciência. O melhor seria lhe tirar o máximo proveito. Quando finalmente o aceitarmos e reconheçamos plenamente sua beleza e poder, encontrar-nos-emos com que, tanto em assuntos espirituais, como práticos, saímos ganhando.
Mas a superstição e a pseudociência não deixam de interpor-se no caminho: proporcionar respostas fáceis, evitar o escrutínio cético, apelar a nossos temores e desvalorizar a experiência, nos convertendo em praticantes rotineiros e cômodos além de vítimas da credulidade. Sim o mundo seria mais interessante se houvesse óvnis à espreita nas águas profundas das Bermudas tragando-se navios e aviões, ou se os mortos pudessem fazer-se com o controle de nossas mãos e nos escrever mensagens. Seria fascinante que os adolescentes fossem capazes de fazer saltar o auricular do telefone de sua forquilha só com o pensamento, ou que nossos sonhos sonhos pudessem predizer acertadamente o futuro com maior assiduidade que a que pode explicar-se pela casualidade e nosso conhecimento do mundo. Todo isso são exemplos de pseudociência. Pretendem utilizar métodos e descobrimentos da ciência, enquanto que em realidade são desleais a sua natureza, frequentemente por que se apoiam em provas insuficientes ou porque ignoram chaves que apontam em outra direção. Estão infestados de credulidade. Com a cooperação desinformada (e frequentemente a conivência cínica) de periódicos, revistas, editores, rádio, televisão, produtores de cinema e similares, essas ideias se encontram facilmente em todas as partes.
Muito mais difíceis de encontrar, são os descobrimentos alternativos mais desafiantes e inclusive mais assombrosos da ciência. Naturalmente, a gente prova distintos sistemas de crenças para ver se lhe servem. E, se estivermos muito desesperados, todos chegamos a estar mais dispostos a abandonar o que podemos perceber como uma pesada carga de ceticismo. A pseudociência enche necessidades emocionais capitalistas que a ciência está acostumada deixar insatisfeita.
Proporciona fantasias sobre poderes pessoas que nos faltam e desejamos (como os que se atribuem aos super-heróis dos gibis hoje em dia, e anteriormente aos deuses). Em algumas de suas manifestações oferece uma satisfação da fome espiritual, a cura das enfermidades, a promessa de que a morte não é o fim. Confirma-nos nossa centralidade e importância cósmica. Assegura que estamos conectados, vinculados, ao universo. Ás vezes é uma espécie de lar a meio caminho entre a antiga religião e a nova ciência, do que ambas desconfiam. No coração de alguma pseudociência (e também de alguma religião antiga ou da “Nova Era”) encontra-se a ideia de que o desejo o converte quase tudo em realidade. Que satisfatório seria, como nos contos infantis e lendas folclóricas, satisfazer o desejo de nosso coração só desejando-o. Que sedutora é a esta ideia, especialmente se comparada com o trabalho e a sorte que se está acostumado a necessitar para encher nossas esperanças.
O peixe encantado ou o gênio do abajur nos concederão três desejos: o que queiramos, exceto mais desejos. Quem não pensou — só no caso de, só se por acaso nos encontrarmos ou roçamos acidentalmente uma velha lâmpada — o que pediria?
Liev Trotski o descreveu referindo-se a Alemanha em vésperas da tira do poder por parte do Hitler (mas a descrição poderia haver-se aplicado igualmente à União Soviética de 1933); Não só nas casas dos camponeses, mas também nos arranha-céu da cidade, junto ao século XX, convive o XIII. Cem milhões de pessoas usam a eletricidade e acreditam ainda nos poderes mágicos dos signos e exorcismos… As estrelas de cinema vão a médiuns. Os aviadores que pilotam milagrosos mecanismos criados pelo gênio do homem levam amuletos na jaqueta. Que inesgotável reserva de escuridão, ignorância e selvageria possuem!
Há uma espécie de astrólogo-adivinho-médium disposto a aconselhar os altos executivos de grandes corporações, analistas financeiros, advogados e banqueiros sobre qualquer tema. “Se a gente soubesse quantas pessoas, especialmente entre os mais ricos e poderosos, vão aos psíquicos, ficaria com a boca aberta para sempre”, diz um psicólogo de Cleveland, Ohio. Tradicionalmente, a realeza foi vulnerável às fraudes psíquicas. Na antiga China e em Roma a astrologia era propriedade exclusiva do imperador; qualquer uso privado desta poderosa arte se considerava uma ofensa capital.
A pseudociência é distinta da ciência errônea. A ciência avança com os enganos e vai eliminando um a um, chega-se continuamente a conclusões falsas, mas se formulam hipoteticamente, expõem-se hipótese de modo que possam refutar-se, confronta-se uma sucessão de hipóteses alternativas mediante experimento e observação; A ciência anda a provas e titubeando para uma maior compreensão. Certamente, quando se descarta uma hipótese científica se vem afetados os sentimentos de propriedade, mas se reconhece que este tipo de refutação é o elemento central da empresa científica.
A pseudociência é justo o contrário. As hipótese revistam formular-se precisamente de modo que sejam invulneráveis a qualquer experimento que ofereça uma possibilidade de refutação, por isso em principio não podem ser invalidades. Os praticantes se mostram precavidos e à defensiva, opõem-se ao escrutínio cético. Quando a hipótese coalhar entre os cientistas se alegam conspirações para suprimi-la;
Raramente tropeçamos ou caímos, exceto de pequenos ou na velhice. Aprendemos tarefas como montar em bicicleta, patinar, saltar à curva ou conduzir um carro e conservamos este domínio para toda a vida. Embora estejamos uma década sem praticá-lo, não nos custa nenhum esforço recuperá-lo. Entretanto, isso nos dá um falso sentido de confiança em nossos outros talentos. Nossas percepções são falíveis. Às vezes vemos o que não existe. Somos vítimas de ilusões ópticas. Em ocasiões alucinamos. Tendemos a cometer enganos.
Preparamos uma civilização global em que os elementos mais cruciais — o transporte, as comunicações e todas as demais indústrias. a agricultura, a medicina, a educação, o ócio, o amparo do meio ambiente, e inclusive a instituição democrática chave das eleições — dependem profundamente da ciência e da tecnologia;
Uma vela na escuridão é o título de um livro valente, do Thomas Ady, publicado em Londres em 1656, que ataca a caça de bruxas. Qualquer enfermidade ou tormenta, algo fora do ordinário, atribuía-se popularmente à bruxaria. Durante grande parte de nossa história tínhamos tanto medo do mundo exterior, com seus perigos imprevisíveis, que nos abraçávamos com alegria a algo que prometesse mitigar ou explicar o terror.
O perigo de que “as nações pereçam por falta de conhecimento”. A causa da miséria humana evitável não está acostumado a ser tanto a estupidez como a ignorância, particularmente a ignorância de nós mesmos.
A chama da vela pisca. Treme sua pequena fonte de luz. Aumenta a escuridão. Os demônios começam a agitar-se;
Se você não foi preguiçoso e leu o texto até aqui, você já conseguiu sair do grupo da maioria das pessoas que nem se da ao trabalho de ler um texto até o final, principalmente no meio esotérico, onde as pessoas olham para o básico da informação, não buscam a história ou as origens de suas crenças.
Esse texto não é para te desmotivar, e sim para te incentivar a pesquisar, entender, experimentar todos os meios com que trabalha o seu lado espiritual, de maneira profunda e consciente.
Nunca entregue para um terceiro, ou para o “transito da lua”, ou para a “carta do dia”, a responsabilidade das suas decisões. Não confie naquele Youtuber astrológico, ou naquela conta do Instagram sobre signos, sem checar o por que de cada informação. Não queira misturar suas ideologias com o trabalho da ciência terrena, por que cada uma delas tem suas próprias áreas de ação.
O Tarô é uma das minhas ferramentas favoritas para a minha evolução, mas como me disseram uma vez, ele é só um escravo nas nossas vidas, o único que pode determinar o que podemos ou não fazer, nossas limitações e habilidades, é a nossa determinação. Mas como Carl Seagan escreveu, que nós falhemos por nossa estupidez, e não pela nossa ignorância. Que o fruto de nosso trabalho seja consequência de nosso esforço e dedicação, e não da sorte ou do momento astrológico. Que nossas paixões sejam conquistadas com entusiasmo e sofrimento, e não pela compatibilidade astral. Que quando olhemos para trás, vejamos todas as infinitas tomadas de decisões que NÓS, Senhores de nossos destinos decidimos tomar, e que ainda que usemos esses ricos e valiosos símbolos que eu amo tanto, como a astrologia e o tarô, seja unicamente como uma ferramenta de conhecimento e reflexão, e não algo que usemos para transferir nossas culpas e medos.
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