As opiniões negativas e injustificadas são levianas e às vezes também perniciosas, não passando de um disfarce da ignorância, ou melhor, sendo uma tentativa de esquivar-se à responsabilidade e ao confronto incondicional.
Antes de iniciar esse texto, gostaria de deixar claro que o objetivo dele não é criticar a imagem, legado ou divindade de Cristo, e sim, relatar a incompetência que é o Cristianismo como religião, e não por que serem cristãos que se chegaram a incompetência, e sim por serem seres humanos.
Durante quase vinte anos eu fui seguidor da religião cristã, mas precisamente o cristianismo protestante, desde os ramos tradicionais, até os pentecostais e neo-pentecostais. Então alguns relatos aqui não serão apenas achismos ou interpretações e sim experiências vividas, que não pretendo dizer que foram ruins, por que fazem parte de um seleto e feliz momento de minha vida, mas que, a luz da realidade critica, não pode ser tida como religião perfeita.
Por eu ter “trocado” de crenças, muitos membros da religião cristã me consideram como “desviado”, algo como alguém que gostaria de seguir o caminho mas que por alguma razão se perdeu e não sabe como voltar. Porém no meu caso eu considero isso um equivoco, por que eu ter escolhido trocar de caminho não foi por ter me perdido e sim por ter preferido seguir um caminho diferente.
O principal ponto da minha critica se baseia na visão do fundador ou proposito que o cristianismo surgiu: Jesus Cristo.
A ideia principal conta-nos que Cristo, Deus como homem, veio a terra para salvar toda a humanidade do pecado e da destruição, e em uma prova de amor, levou consigo todos os pecados do mundo, venceu a morte e ressuscitou ao terceiro dia e, um dia, irá voltar para o grande final. Essa história todos conhecem, além dessa, os vários milagres e maravilhas feitos por Jesus, relatados nos evangelhos e outros livros do Novo Testamento. Pessoas fieis aos ensinamentos de Cristo, tentando imitar seus passos, parece algo maravilho não? E é, porém, o ser humano é um expert em se enganar e enganar a si mesmo, não por maldade ou má vontade, mas por ignorância e falta de auto conhecimento.
Antes de falar da religião, devo explicar o que entendo por este termo. Religião é — como diz o vocábulo latino religere — uma acurada e conscienciosa observação daquilo que Rudolf Otto acertadamente chamou de “numinoso”, isto é, uma existência ou um efeito dinâmico não causados por um ato arbitrário. Pelo contrário, o efeito se apodera e domina o sujeito humano, mais sua vítima do que seu criador. Qualquer que seja a sua causa, o numinoso constitui uma condição do sujeito, e é independente de sua vontade. De qualquer modo, tal como o consensus gentium, a doutrina religiosa mostra-nos invariavelmente e em toda a parte que esta condição deve estar ligada a uma causa externa ao indivíduo. O numinoso pode ser a propriedade de um objeto visível, ou o influxo de uma presença invisível, que produzem uma modificação especial na consciência. Tal é, pelo menos, a regra universal.
A maioria dos membros do cristianismo moderno, parece que perderam a essência de Cristo, e por mais que dizem que o seguem e tentar ser como ele, mas parece, que o mesmo Cristo é um ser externo, quase como um dogma misterioso, que de tão misterioso e distante, os milagres feitos por eles são lembrados apenas pelas maravilhas que são e não pelo proposito que tinham.
A exigência da “imitatio Christi”, isto é, a exigência de seguir seu modelo, tornando-nos semelhantes a ele, deveria conduzir o homem interior ao seu pleno desenvolvimento e exaltação.
Mas o fiel, de mentalidade superficial e formalística, transforma esse modelo num objeto externo de culto; a veneração desse objeto o impede de atingir as profundezas da alma, a fim de transformá-la naquela totalidade que corresponde ao modelo.
Dessa forma, o mediador divido permanece do lado de fora, como uma imagem, enquanto o homem continua fragmentário, intocado em sua natureza mais profunda. Pois bem, Cristo pode ser imitado até o ponto extremo da estigmatização, sem que seu imitador chegue nem de longe ao modelo e seu significado.
Não se trata de uma simples imitação, que não transforma o homem, representando assim um mero artifício. Pelo contrário, trata-se de realizar o modelo segundo os meios próprios de cada um — Deo concedente — na esfera da vida individual.
Cristo, enquanto modelo, carregou os pecados do mundo. Ora, quando o modelo permanece totalmente exterior, o mesmo de dá com os pecados do indivíduo, o qual se torna mais fragmentário do que nunca; o equívoco superficial em que incorre lhe abre o caminho fácil de jogar literalmente sobre Cristo seus pecados, a fim de escapar a uma responsabilidade mais profunda, e isto contradiz o espírito do cristianismo.
As pessoas se maravilham com sinais, mas sinais e milagres sem um propósito não passam de um truque barato. Não é atoa que as igrejas mais cheias são aquelas com maiores manifestações de “sinais” ou apresentações performáticas, e claro, uma clara disputa social por cargos e influência.
Os milagres só empolgam o entendimento dos que não podem perceber-lhes o sentido. São meros substitutos da realidade não compreendida do espirito. Isso não quer dizer que a presença viva do espirito não é ocasionalmente acompanhada de maravilhosos acontecimentos físicos. Desejo enfatizar apenas que tais acontecimentos nem podem substituir o espirito nem podem provocar-lhe a compreensão, que é a única coisa essencial.
Certa vez, discutindo sobre esses problemas com um cristão, fui advertido que essas coisas só ocorriam, por que o homem se afastou de Deus, por que o homem é naturalmente bom, mas discordo disso, se o homem é naturalmente bom, não precisaríamos ter o livre arbitro para escolher entre o bom e o mal, caso não seja isso, teríamos que aceitar que a nossa alma é um mero objeto, manipulado para lá e para cá, dependendo da sorte de quem nos manipula.
A alma parece assim tão insignificante a ponto de ser considerada incapaz do mal e muito menos do bem. Entretanto, se a alma não desempenha papel algum, a vida religiosa se congela em pura exterioridade e formalismo.
Como quer que imaginemos a relação entre Deus e a alma, uma coisa é certa: é impossível considerar a alma como “nada mais do que”. Pelo contrário, ela possui a dignidade de um ser que tem o dom da relação consciente com a divindade.
A afirmação dogmática da imortalidade da alma a eleva acima da mortalidade do homem corporal, fazendo-a partícipe de uma qualidade sobrenatural. Deste modo, ela ultrapassa muito em significado ao homem moral consciente, e portanto seria vedado ao cristão considerar a alma como um nada mais do que”.
Grande parte dessa “pobreza de consciência” do povo cristão, começa pela conversão da maioria, que ao invés de ser por uma assimilação do que é professar essa fé, geralmente é por causa de uma das causas abaixo:
1 — Depois que o individuo recebeu um bom conselho;
2 — Depois de uma confissão mais ou menos completa, porém suficiente;
3 — Depois de haver reconhecido um conteúdo essencial, até então inconsciente, cuja conscientização imprime um novo impulso à sua vida e às suas atividades;
4 — Depois de libertar-se da psique infantil após um longo trabalho efetuado;
5 — Depois de conseguir uma nova adaptação racional a condições de vida talvez difíceis ou incomuns;
6 — Depois do desaparecimento de sintomas dolorosos;
7 — Depois de uma mudança positiva do destino, tais como: exames, noivado, casamento, divórcio, mudança de profissão, etc.;
Todos essas “causas de conversão”, fazem o individuo entrar em uma “sociedade cristã” tendo Cristo como um objeto externo, ao invés de ter os princípios cristãos em ações que o levam a um estado de maturidade e cuidado com o próximo, aonde atrás de milagres transforma vidas, e milagres não são sinais e maravilhas externas, são ações que transformam o individuo por dentro e resolvem problemas reais para as aflições alheias.
Lembro que em meados de 2010, participei de uma “conferência profética” com um famoso ministro de louvor Cristão. Em dado momento da apresentação, ele pediu para as pessoas olharem os objetos pessoas que fossem de metal, ferro, latão etc., por que um milagre estava acontecendo ali: quem cresce, esses objetos seriam transformados em ouro. Na ocasião lembro de ter ficado desesperado querendo que aquilo acontecesse comigo, assim como tantos outros ao redor gritavam e choravam, dizendo que estava acontecendo ali agora tal milagre. Hoje quando relembro disso, penso o quão tolos eram todos ali, qual o propósito de tal manifestação apenas para impressionar? Qual a diferença disso e de uma apresentação de um mágico onde ele corta a assistente no meio? Milagre mesmo seria as inúmeras aflições de cada ser humano ali ser “milagrosamente transformada”:
Alguns cristãos irão dizer que tudo isso não passa de frutos do espirito, mas para esses vale lembrar que os únicos frutos do espirito são: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.
E os frutos da carne: Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas.
Se Cristo estivesse vivo e entre nós hoje, talvez ele não estaria em cima de um altar de uma igreja cristã, e sim junto daqueles que são tão atacados por eles.
Esse texto não teve como objetivo dizer que o que creio é mais verdadeiro do que outros creem, e sim, que o que Cristo fez e deixou como legado, não pode ser usurpado por porcos cegos, soberbos e prepotentes, que acham que o céu é deles e que todos os outros que não estão entre eles, guardam um lugar no inferno.
Pode acontecer que um cristão, mesmo acreditando em todas as imagens sagradas, permaneça indiferente e imutável no mais íntimo de sua alma, porque seu Deus se encontra completamente “fora” e não é vivenciado em sua alma. Seus motivos e interesses decisivos e determinantes bem como seus impulsos não provêm da esfera do cristianismo, mas de uma alma inconsciente e indiferente que é, como sempre, pagã e arcaica. Não só a vida individual, mas a soma das vidas individuais que constituem um povo, provam a verdade dessa afirmação.
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Cristianismo crítica Religião
Fontes e Referências
Carl Gustav Jung — Psicologia e Religião
Carl Gustav Jung — Psicologia e Alquimia
Salie Nicholls — Jung e o Tarô
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