Junto com o colapso do ritual significativo para a iniciação masculina, um segundo fator parece estar contribuindo para a dissolução da identidade do homem maduro. Esse fator, que nos foi mostrado por um esforço da crítica feminista, é o patriarcado: a organização social e cultural que vem governando o nosso mundo ocidental, e grande parte do resto do mundo, desde pelo menos o segundo milênio antes de Cristo até hoje. As feministas verificam o quanto a dominação masculina no patriarcado oprimiu e maltratou o feminino — as chamadas características e virtudes femininas e as próprias mulheres. Na crítica radical que fazem a esse sistema, algumas feministas concluem que, em suas raízes, a masculinidade, é essencialmente agressiva e que a ligação com o “eros” — com o amor, o relacionamento e a suavidade — se faz apenas pelo lado feminino da equação humana.
Embora algumas dessas percepções tenham sido úteis na defesa da liberação, tanto feminina como masculina, dos modelos patriarcais, acreditamos existir nelas sérios problemas. A nosso ver, o patriarcado não é a expressão de uma profunda e enraizada masculinidade, pois esta não é agressiva. O patriarcado é a expressão da masculinidade imatura. É a expressão da psicologia do Menino e, em parte, o lado sombra — ou louco — da masculinidade. Expressa o homem atrofiado, fixado em níveis imaturos.
O patriarcado, em nossa opinião, é uma agressão a masculinidade na sua plenitude, assim como a feminilidade no seu todo. Os que se prendem às estruturas e à dinâmica desse sistema buscam dominar igualmente homens e mulheres. O patriarcado fundamenta-se no medo masculino — o medo do menino, o medo do homem imaturo — em relação às mulheres, certamente, mas também em relação aos homens. Os meninos temem as mulheres. E temem também os homens de verdade.
O patriarca não aceita o pleno desenvolvimento masculino de seus filhos ou de seus subordinados, da mesma forma que não acolhe com prazer o desenvolvimento pleno de suas filhas ou de suas funcionárias. É a história do chefe no escritório que não suporta ver o quanto somos bons. Quantas vezes nos invejam, odeiam e atacam de forma direta e passiva quando buscamos revelar o que realmente somos em toda a nossa beleza, maturidade, criatividade e produtividade! Quanto mais nos tornamos belos, competentes e criativos, parece que mais hostilidade despertamos em nossos superiores, e até me nossos colegas. O que realmente nos agride é a imaturidade nos seres humanos, aterrorizados com os nosso avanços no caminhos rumo à plenitude do ser masculino ou feminino.
Ou seja, as origens ou as causas do patriarcado e do machismo na nossa sociedade não é o masculino pelo masculino, e sim, homens e mulheres imaturos que chegam a vida adulta com uma mente com medos e ansiedades de crianças. Por isso, não faz sentido essa proposta de que o Imperador é um “machista” bastião do patriarcado, ou então, considera-lo autoritário e malvado apenas pelo seu posto de poder (o império). Concordo que é difícil construir uma imagem diferente para a maioria das pessoas, afinal, o imaginário popular é construído muitas vezes pelo que temos de referência na cultura pop, como na série “Star Wars” onde o grande vilão entre as eras é justamente o “Império”, mas temos que fazer essa separação, do mundo lúdico do mundo real, e na própria história da humanidade temos exemplos disso.
Sobre o Imperador ser bom ou ruim, é um julgamento subjetivo de ser feito, por exemplo, na idade média um governante considerado “bom” muitas vezes era aqueles que seguiam a ética da igreja, mesmo que praticando atos de violência ou autoritarismo, se fosse em nome de “Deus”, eram considerados bons e justos. O mesmo vale para medidas que consideremos “boas” nos dias de hoje, mas que naquela época, seriam consideradas horríveis, por exemplo, acabar com a fome de pagãos, pode ser vista com bons olhos em pleno 2020, mas na idade média, uma autentica barbaridade. O que quero dizer então, é que se o governante é bom ou ruim não tem a ver com seus atos diretamente, e sim na época em que ele governa e principalmente quem são os governados.
Exemplos disso:
O Rei Luís 9º que governou a França entre 1226 a 1270, proibiu o nepotismo, os duelos, os jogos de azar, a prostituição e a blasfêmia. E por ter aumentado o poder da igreja, foi até canonizado e virou santo (mas durante seu reinado perseguiu e matou judeus);
O Imperador Augusto que entre 27a.c. a 14d.c foi o imperador de Roma, gostava de dar bons exemplos de virtude, mas “virtude” nada mais é do que viver de acordo com os bons costumes da época (época em que a pessoa vive). Logo, algumas ações virtuosas fazem mais sentido naquele momento do que nos dias de hoje:
Certa vez, ele se hospedou na casa de Vedius Pollio, um alto funcionário do governo. Durante a festa de boas-vindas, um dos escravos do anfitrião tropeçou e quebrou um copo de cristal. Vedius ficou irado e ordenou que ele fosse jogado em uma piscina cheia de lampreias. O imperador interveio: salvou o escravo, libertou-o e ainda mandou seus soldados quebrarem todos os copos de cristal do cruel anfitrião.
Trajano (Roma, de 98 a 117) fez a alegria do povo romano distribuindo trigo para mais de 200 mil pessoas, da aristocracia à plebe. Como mesmo assim muita gente ficava de fora, Trajano passou a sortear uma vaga no bolsa-trigo toda vez que morresse um cidadão. Mas a doação não era pura generosidade do imperador. Os pães, financiados pelas guerras romanas, faziam parte da política do pão e circo, que tentava distrair as massas com comida e diversão.
Já o Rei Jorge (Inglaterra, 1760 à 1920), governou durante uma época turbulenta e foi considerado um dos responsáveis pela perda das 13 colônias americanas. A verdade é que Jorge não queria muito saber de política e preferia passar seu tempo fomentando a lavoura e trocando ideias com fazendeiros sobre as coisas do campo, muitas vezes em visitas casuais não anunciadas. Sua postura levou a agricultura do país a um pico e lhe valeu o apelido de “Jorge Fazendeiro”. O líder também curtia astronomia, e financiou a construção do maior telescópio da época. Com ele, o astrônomo William Herschel descobriu o planeta Urano, em 1781.
O Rei Açoca (Índia, 268 a 232 a.c), depois de matar mais de 200 mil pessoas na conquista de um reinado vizinho, Açoca teve uma crise de consciência. Convertido ao budismo, ele dedicou seus esforços à preservação de todas as formas de vida. Durante seu império, caça esportiva e sacrifícios foram proibidos, assim como a morte de peixes e pássaros. Para curar os animais feridos, Açoca criou o primeiro hospital para animais da história.
E por fim o Rei Singye Wangchuck (Butão, 1972 a 2006), abdicou da vida no palácio e foi viver em uma casa de madeira, longe dos excessos do poder. Para medir o desenvolvimento de seu país sem os estranguladores índices econômicos, criou o FIB (Felicidade Interna Bruta), que mede a qualidade de vida usando fatores como a quantidade de tempo livre e a preservação ecológica. Depois de 33 anos no trono, abdicou para que fossem realizadas as primeiras eleições do país.
O que podemos perceber com todos esses exemplos, é que o Arcano do Imperador não irá se encaixar na limitante e infelizmente mais comum visão de mundo dos nossos dias de que só existem dois lados de um espectro político social, (seja esquerda, direita, masculino, feminino etc.), vestido de uma moral boa ou ruim, as ações e consequências dessas ações são formadas por vários tons de cinza, quem vê o anjo destruindo uma cidade onde mora pode achar o anjo malvado, mas quem tinha inimigos na cidade considera o mesmo anjo um milagre. Não é o Imperador por si só, uma entidade boa ou ruim, tudo depende da ação do poder dele, no tempo, no espaço, nas pessoas e nas circunstâncias.
“Não se deve deixar de criticar; o que se deve, porém, é saber criticar”