Um dos maiores dogmas entre os cristãos, é a questão da vida após a morte, em especial, entre a filosofia espiritualista (espiritismo) e também do catolicismo, e algumas doutrinas protestantes e pentecostais, que discordam totalmente da ideia de reencarnação, chegando até a dizer de se tratar de uma heresia ou um tema antibíblico. O Curioso desse conflito, é que por mais que a reencarnação seja um tema discordante, é de comum acordo a ideia da ressurreição, principalmente na crença no Cristo ressurreto e seus milagres com esse tema, por exemplo, a ressurreição de Lazaro, além de que é comum na Bíblia referencias a ressurreição dos mortos:
“Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho será como o orvalho das ervas e a terra lançará de si os mortos” (Is. 26:19),
“E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para a vergonha e desprezo eterno… Tu, porém, vai até ao fim; porque repousarás, e estarás na tua sorte, no fim dos dias” (Dan. 12:2,13).
Jesus disse: “Vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressureição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição do juízo” (João 5:28–29);
“de que há-de haver ressurreição de mortos, assim dos justos como dos injustos” (Atos 24:15);
Em uma leitura desatenta, pode ser comum pensar: “Ok, ressurreição e reencarnação são coisas totalmente diferentes”, mas então chegamos a uma pergunta incomoda que é tema central desse texto: qual a diferença entre ressurreição, reencarnação e renascimento? Provavelmente virá a sua mente respostas simples como “reencarnação a alma após a morte, reencarna em outro corpo, quando renascimento ou ressurreição eu volto a vida no mesmo corpo”. É uma resposta que parece ser verdade, mas apenas “parece”, quando na verdade a “verdade” real é um pouco mais complexa e completa.
É comum nos dizermos “meu corpo”, referenciando o local que guarda nossa alma, mas o nosso corpo está em constantes mudanças, estamos deixando pedaços dele por ai, até quando o seu corpo deixa de ser seu corpo? Se você perder um braço, ainda será o seu corpo? E se você tiver apenas o tronco, ainda é seu corpo? Quanto de “corpo” precisa ter, para que seja realmente um corpo?
Isso me lembra o paradoxo de Teseu, proposto por Plutarco:
Se o navio de Teseu trocar de peças ao longo de uma viagem, ainda será o mesmo?
Imagine que você tenha um barco inteiro de madeira. Aí você vai lá e troca uma das tábuas por outra, de alumínio. O barco ainda é o mesmo, só que agora, tem um pedaço de alumínio.
Agora vamos supor que você tenha gostado da ideia e vá substituindo toda a madeira por alumínio, parte por parte. Troca o convés, troca os mastros, troca o timão, troca o leme, etc.
Ao final dessa reforma você terá um barco de alumínio e não mais um de madeira. Ou seja, você terá outro barco. Mas quando foi que o barco de madeira deixou de ser o de madeira e virou o de alumínio? Foi na última peça que você trocou? Ou foi na primeira? Ou talvez, logo depois que você passou da metade?
Imagine agora que alguém estava viajando com você, e viu todas aquelas peças de madeira que você jogou fora e teve uma ideia: “oba, vou montar um barco de madeira!” E agora? Qual é o seu barco? São os dois? Sim, você jogou as madeiras fora, mas agora elas voltaram a formar um barco, igualzinho aquele original.
Esse curioso paradoxo é muito útil para aquela resposta fácil, de que se eu vou para outro corpo, é reencarnação, mas o que vem a ser o seu corpo? Usando outro exemplo, normalmente pessoas que sofreram graves acidentes usam a expressão “renasci dos mortos”, porém muitas vezes devido a gravidade do acidente, essas pessoas foram mutiladas, receberam próteses ou simplesmente tiveram uma grande mudança na estrutura corporal. Por que não dizer que elas também reencarnaram ao invés de renasceram? Ou então ressuscitaram?
Segundo a psicologia, em especial a psicologia Junguiana, o que define o evento “pós vitória sobre a morte,” não é a teoria ou o conceito geral seja das pessoas ou do dogma, e sim da percepção da pessoa que passou pelo evento, ou seja, se a pessoa em sua consciência crê que renasceu, então ela renasceu, se ela crê que ressuscitou, então ela ressuscitou, ou então se ela crê que reencarnou, então reencarnou. Isso por que esses três eventos tem em comum a essência da vitória sobre a morte, e permite ao indivíduo recomeçar a vida, em uma nova oportunidade.
Perceba que não estou dizendo aqui sobre o que realmente aconteceu metafisicamente falando, e sim como o evento é percebido e lidado pelo indivíduo. E no próprio inconsciente dos seres humanos existe essa fagulha de ser necessário vencer a morte para se tornar um ser humano maduro ou iniciado, não atoa, várias sociedades antigas, ou tribais, possuem rituais de morte em que o “velhos homem” morre para que o “novo homem” nasça. Não estou falando apenas de índios, se olharmos para o próprio cristianismo, a ideia do batismo é justamente “nascer” para o reino de Deus.
Nos três casos (reencarnação, renascimento e ressurreição), outra característica em comum além da vitória sobre a morte, é que esses eventos geralmente trazem uma mudança de postura ou personalidade no indivíduo, não atoa, é chamada de nova vida, “sou uma nova pessoa”, “nasci de novo”, etc.
Um dos maiores exemplo dessa experiência de vitória sobre a morte, está relatada como parábola no livro de Jonas na Bíblia, apesar da maioria das pessoas nunca terem se atentado a isso, e se apegarem a história no literal, ao invés de escavar a real mensagem que o livro nos conta.