Para poder ter um negócio bem-sucedido por exemplo, precisamos ter um plano, saber para onde iremos, quais são as dificuldades e desafios que teremos, precisamos entender qual é a nossa visão, e saber o que vai ser solicitado de nós, não é? Vocês não concordam? Faz sentido?
Quando falamos de relacionamentos, antes de entrar nesse mundo, precisamos entender o que é, entendermos a nossa visão, de onde eu estou vindo, quais são as minhas expectativas, e mais do que tudo, o que é que estou disposto a investir.
Então, vamos supor que eu estou disposto a abrir um negócio, e eu estou disposto a receber muito dinheiro, não tenho nenhum problema quanto a isso. Mas quando você abre um negócio, você precisa fazer algumas perguntas muito importantes que são: “o que eu vou investir?”, “o que estou disposto a investir?”, não podemos apenas colher o resultado, precisamos trabalhar por ele.
Quando você olha para os relacionamentos a sua volta hoje, pense em algumas pessoas que tem um relacionamento, em termos de porcentagem, quantos você pode dizer que são relacionamentos bem-sucedidos e quantos não são? Todos vocês concordam que quando olhamos para os relacionamentos de uma forma geral, a maioria deles não são tão bem-sucedidos, alguns dados mostram que a taxa de divórcios após dois anos de casamento é de 80%, ou seja apenas 20% dos casamentos dão certo.
Agora, imagine que alguém vem e diz para você investir o seu dinheiro em um negócio que só 20% será bem-sucedido, o que vocês acham, vocês fariam? E a pergunta é, por que depois de tudo aquilo o que a gente vê nos relacionamentos, todas as histórias, todas as experiências que temos, ainda queremos um relacionamento, qual é o nosso problema? Por que isso parece um pouco bobo, não aprendemos da nossa experiência, podemos terminar um relacionamento, nos machucarmos, por que temos tanta esperança que o próximo será diferente? Por dois meses podemos falar que não queremos mais, mas ai encontramos alguém e, de novo, dizemos: “essa é a pessoa!”, “eu tenho certeza, estou sentindo!”, “eu até sonhei com isso”, e então termina da mesma forma, ou até mesmo pior, nos deprimimos, e depois de três meses o que acontece….. “essa é a pessoa”, temos a certeza, como se toda a memória que tivemos dos relacionamentos anteriores fosse apagada.
E precisamos olhar para isso de uma forma objetiva, e entender o que é dentro de nós, que quer tanto um relacionamento e por quê.
Uma coisa que precisamos compreender quando falamos de relacionamentos, é o que estamos sentindo pela outra pessoa. Hoje em dia temos pouca educação emocional, não conhecemos nossas emoções e sentimentos, e nessa confusão, a maioria das pessoas não entende o que sente, por exemplo, você sabe a diferença entre paixão, afeto e amor? Sabe a origem dessas emoções, o que elas provocam e principalmente de onde elas surgem?
Vamos fazer uma breve análise psicológica sobre emoções, sentimentos e suas origens:
A raiz de toda emoção é sempre o seu oposto.
Flor de Plutchik
A teoria psicoevolucionária integrativa das emoções é uma das mais influentes abordagens classificatórias para respostas emocionais em geral. Ela considera que existem oito emoções primárias: raiva, medo, tristeza, nojo, surpresa, curiosidade, aceitação e alegria.
Plutchik propôs que estas emoções “básicas” são biologicamente primitivas e que evoluíram a fim de incrementar a aptidão reprodutiva animal. Plutchik argumenta em prol da primazia destas emoções demonstrando que cada uma delas dispara um comportamento que é de alto valor de sobrevivência, tal como o modo que o medo inspira a reação de lutar ou fugir.
Representação gráfica da Flor de Plutik.
Como abrimos esse tópico, com a frase “A raiz de toda emoção é sempre o seu oposto,” quando desejamos algo, um desejo, nada mais é do que a manifestação da vontade mais forte, e quando falamos de emoções, geralmente quando desejamos sentir algo, ou quando já estamos manifestando essa emoção, na verdade é uma tentativa de fugir da emoção oposta.
Por exemplo, quando você diz que quer ser feliz, o que você realmente quer dizer? Se refletir, perceberá que é na verdade uma vontade de não ser triste. Quando você diz que quer se sentir amada, o que isso significa? Que na verdade você quer fugir de uma realidade ou ansiedade de ser abandonada ou ficar só.
É importante observar isso, por que geralmente desejamos alguém, principalmente nos dias de hoje, não por quem esse “alguém” é, e sim por que vemos nessa pessoa a projeção da realização de um desejo, mas o que não paramos para pensar, é que talvez, a outra pessoa também espera de nós a realização de um desejo dela, mas estamos dispostos a oferecer algo para o outro, ou queremos um relacionamento apenas para suprir aquilo que queremos?
Por isso vários relacionamentos não dão certo no início, é um embate de egos: “eu quero isso”, “eu desejo aquilo”, vendo no outro como um mero realizador de vontades, disfarçando emoções com uma roupa de amor, e quando as coisas dão errado…. o que aconteceu? Simples, topamos participar de uma parceria, sem perceber quais eram exatamente as expectativas do outro, geralmente, pensando apenas naquilo que queremos e não naquilo que podemos dar (ou que temos disponível) para o outro.
Mas e o amor?
Esse texto não tem como objetivo te convencer a desistir de acreditar no amor, em um amor verdadeiro e duradouro. Mas falando nesse tema (o amor), você sabe o que é o amor?
Temos na filosofia algumas distinções sobre “tipos de amor”:
Para Platão, considerado o pai da Filosofia, ele definiu o amor como o “Eros”, ou o “amor platônico”: um resumo seria quando você deseja algo que não tem, algo que está distante, e você deseja esse algo desesperadamente, mesmo que pareça inalcançável. Se acontecer de você conquistar esse algo impossível, o desejo acaba, afinal, o desejo estava na impossibilidade do algo, e não da presença real do algo em si, e aí o desejo acaba. Eu amo aquilo o que não tenho, se eu o tenho, eu não o amo.
Para Aristóteles, considerado o pai da Ciência (fundador da maneira de investigar), definiu o amor como a “Philia” ou a “alegria pelo que não falta”, ou seja, a alegria de saber o que antes não sabíamos, ter o que não tínhamos, amor pelo que já se tem”. Essa alegria é amar algo que o usuário possui, ele não deseja algo que está distante, ou impossível, apenas está satisfeito pelo que já está disponível. Às vezes, o algo que está disponível não realiza integralmente todo os desejos do indivíduo, mas a satisfação é maior do que o desejo de almejar algo maior ou que não esteja ao alcance.
Para Jesus Cristo, o pai do Cristianismo, o amor seria o “Ágape”, ou o “amor por qualquer um”, onde o que é importa é o que o amante sente, se ele está feliz, independente se esse algo está ao lado ou não, o amor incondicional, sem esperar nada em troca, o amor pelo amor e bem do outro. Aqui podemos ver não apenas um amor “cristão”, por assim dizer, podemos colocar aqui o amor de uma mãe por um filho, por exemplo.
Percebem até aqui que apenas dizer “eu te amo” pode significar muito mais e de diferentes perspectivas do que a maioria imagina. Quantos relacionamentos existem por aí onde um casal tem diferentes níveis e ideias de amor, e geralmente as diferenças começam a se manifestar quando as expectativas um do outro começam a serem reveladas.
O que o tarô tem a nos dizer?
Uma das cartas mais esperadas para perguntar sobre relacionamentos amorosos é o 2 de Copas, que mostra dois personagens que tem um algo em comum, e esse algo o levou a um encontro de interesses, e ambos encontraram motivos ou sinais suficientes um no outro para o início de uma história, uma parceria, um acordo etc. Um resumo seria uma correspondência de interesses.
2 de Copas- Rider Waite Tarô
Entretanto, um ponto relevante aqui, é que esses dois personagens tiveram realmente uma correspondência de algo, mas não significa que em todas as áreas, em todos os aspectos essas duas pessoas terão um “encaixe perfeito”, e sim que naquele momento, houve uma determinada situação ou interesse em comum. O que confirma isso, são algumas cartas que vêm na sequência do dois de Copas, como o quatro e cinco de Copas, que demonstram justamente desilusões, frustrações e tristezas, provavelmente por muitas expectativas criadas quando assumimos o compromisso no 2 de Copas.
5 de Copas — Rider Waite
O que fazer então?
Como eu escrevi antes, o objetivo desse texto não é te desencorajar sobre o amor e relacionamentos, e sim mostrar como na metáfora do início do texto, que antes de topar entrar em uma nova empreitada temos que ter muita consciência do que queremos dar em troca, o que vamos investir e ter expectativas realistas sobre o que teremos de retorno.
No próprio tarô, no naipe de copas em uma das posições mais elevadas, temos o 9 de Copas, mas não temos aqui um casal, ou uma dependência de outra pessoa: temos um personagem totalmente pleno e convicto de suas emoções, uma pessoa que se conhece, e sabe bem o que quer através dos próprios esforços e motivações, sem depender de um relacionamento para isso, e é nesse nível de maturidade, que estaremos prontos para um relacionamento saudável e próspero, por que antes de querer doar algo para alguém, temos que ter o suficiente primeiro dentro de nós.
9 de Copas — Tarô Rider Waite
O passado deve ficar no passado
Também não podemos manter o passado como um fator para determinar o que vamos fazer no presente. Não adianta temer que todas as pessoas irão agir como outros agiram no passado. É preciso deixar emoções e, principalmente, lembranças do passado para trás. É claro que foram esses momentos do passado que nos deram experiência e maturidade, mas o passado deve acabar por aí, não pensar em ter um relacionamento como um escape para um amor não curado, ou muito menos para tentar impressionar alguém que já ficou para trás. Será que quando você olha quem visualizou os seus Stories do Instagram na verdade está buscando ver se uma pessoa do passado viu o que está fazendo? Você nunca poderá estar 100% em uma história no presente, se partes de você continuarem presas ao passado que, queira você ou não, não irá voltar.
Você quer um relacionamento de verdade, ou apenas uma pessoa bonita para mostrar para os seus amigos e parentes?
Já conheci muitas pessoas que deixaram histórias de amor incríveis passarem ou não acontecerem, simplesmente porque a outra pessoa não atendia a um certo padrão de beleza ou conquista que iria impressionar amigos e parentes. Enquanto você estiver buscando alguém para ser aceito por seus amigos e familiares, nunca irá encontrar um amor que seja verdadeiro para o que você deseja e precisa. Afinal, para quem é esse relacionamento, é para você ou é o troféu para ser exibido a outros?
Sozinhos, no escuro do quarto, todos nos sentimos transgressores. Só Deus sabe as coisas que nos passam pela cabeça. Mas, à luz do dia, diante de um mundo cada vez mais homogêneo, em que todos os gostos e valores se assemelham, fazemos o que todo mundo faz — nos aproximamos de gente que preenche o padrão comum de qualidade.
Nele não cabem esquisitos ou solitários. Nele não entram desajustados. Os neuróticos, os tristes, os libertinos estão fora. Os chatos criativos, os tímidos brilhantes, os feios apaixonantes não têm chance. Poetas exagerados e rebeldes exaltados jamais se juntarão a nós. São inconvenientes. Almas artísticas tampouco nos interessam. Gente complicada incomoda. Não queremos confusão, angústia, papo cabeça. Nossa vontade é passar a vida entre gente bonita, bacana e descomplicada.
Se você não cabe nessa descrição, parabéns.
Significa que você não vive num comercial de cerveja, namorando uma moça de comercial de absorvente e caminhando, a passos largos, para construir uma família de comercial de margarina. Significa que a sua vida ainda não é um clichê bem-comportado — ou cuidadosamente descuidado — e que nela há lugar para a surpresa. Talvez a chama que faz de você um indivíduo único — e não apenas um consumidor e contribuinte — ainda esteja acesa. Pode ser que você consiga — ou tenha a sorte de — se apaixonar por alguém que não seja um clichê de 120 caracteres. Mas não é fácil.
Nós, coletivamente, perdemos o gosto pela diferença.
Gente que não cabe na caixa — gente que não se encaixa — não nos interessa. Dividimos o mundo burramente entre vencedores e perdedores, como num filme de colegiais americanos, e nos agarramos aos primeiros. Mas a perda que isso causa é enorme. Quem vive fora do bando tem muito a nos contar. A moça de olhar melancólico pode fazer música e poesia, falar outra língua, vir de um país distante. O cara solitário talvez seja um gênio da intimidade, tenha um humor corrosivo, vibre de fúria e indignação com o estado do mundo. Quem não se enquadra e nem se junta pode estar fazendo coisa mais interessante. Talvez criando um mundo novo, quem sabe inventando uma existência mais plena. Quem sabe?
A beleza é algo espiritual
Se nos guiarmos por métodos sensíveis, pensaremos que o belo é criado por nossos olhos. Mas talvez, como defende Hegel, nossos olhos sejam apenas o meio pelo qual algo espiritual e universal possa se manifestar de maneira sensível e particular a cada um.
Afinal, ainda que cada um veja a beleza em algo particular, a todos o belo é um absoluto.
É neste sentido que, ao retomar as discussões sobre estética, vemos que o belo tem pouco a ver com a rivalidade narcísica que nos faz querer competir com os demais para nos sentir melhores. Mais belos.
Apesar de ser alcançado por maneiras sensíveis, o belo é uma necessidade do espírito. O problema ocorre quando invertemos isso. Tomamos o espiritual pela medida dos sentidos.
Enquanto aspecto sensível, queremos consumir a beleza em nossas vidas. Como um corpo, um produto, uma imagem, uma paixão, um a mais que me falta e necessito narcisisticamente para ser feliz.
Quando, enquanto espiritual, o belo é contemplativo. Ele não pede mais nada. Apenas nos faz querer desfrutar do êxtase de sua transcendência.
Encontrar a beleza — seja em nossa vida, em outras pessoas, em nós mesmos — tem mais a ver com contemplá-la do que persegui-la através dos métodos mais radicais e alucinados que você possa imaginar.
E não por acaso, é esse lugar de contemplação que encontra o belo que tanto parece faltar a nossas vidas.
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Se você tiver qualquer dúvida pode me enviar um e-mail para diogenesjunior.ti@gmail.com.
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Amor amoroso Casal kabbalah Reflexão Reflexões sobre o Tarô relacionamento Tarô
Fontes e Referências
- A inspiração desse texto, veio através da palestra “Relacionamentos a Luz da Kabbalah” no Kabbalah Centre em São Paulo;
- Parte do texto sobre “fora da caixa” é de autoria de Ivan Martins https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2014/04/fora-da-bcaixab.html?source=post_page—————————;
- Parte do texto sobre “Beleza é espiritual” é de autoria de Igor Teo https://medium.com/@igorteo/encontre-assim-a-beleza-que-busca-9b23b9a4b60b;
- Os trechos sobre a Flor de Plutik foram baseados nos textos https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Plutchik e também no https://www.cvv.org.br/blog/roda-das-emocoes/ e em https://sdvila.wordpress.com/2008/12/23/a-teoria-psicoevolucionaria-das-emocoes-o-modelo-plutchick/;
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Obrigado Ingrid Pereira e Val Felix pela revisão do texto.
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