Em geral conhecido como o “mensageiro dos deuses”, Hermes era isso e muito mais. Ficou famoso por ir de um lugar a outro em instantes, levado pelos ares pelas sandálias aladas que se tornariam seu símbolo. A habilidade para voar era essencial ao papel de mensageiro. Simbolicamente, porém, o deslocamento rápido do deus sugeria sua rapidez de pensamento e o desprezo pelas restrições normais de tempo e espaço.
Hermes era filho de Zeus e Maia, filha do titã Atlas e da oceânide Pleione. Conhecido como Mercúrio pelos romanos, ele manifestou sua natureza mercurial desde que saltou “direto do útero de sua mãe”, aterrissando dentro do berço. O jovem deus não ficou deitado ali por muito tempo. Em vez disso — e mesmo tendo apenas uma hora de vida — saiu da gruta que servia de refúgio à sua mãe decidido a encontrar e roubar o gado do deus do Sol, Apolo. Mal Hermes pisou fora da gruta, distraiu-se com um jabuti. Esvaziou o casco do animal e fez dele “um instrumento”. Recobriu o casco com couro de boi deixando uma abertura para produzir o som, sem seguida, esticou cordas ao longo do casco e criou uma ponte de madeira para prendê-las , fabricando a primeira lira do mundo. Dedilhando as cordas, entoou canções que recontavam histórias épicas sobre o mundo e a criação — sobre os titãs, os olímpicos, as ninfas, os homens e as mulheres e outros seres.
Um deus de muitas faces
Ainda não contava um dia de vida e Hermes já era o primeiro músico, poeta e historiador do mundo. Sua natureza multifacetada também era inconstante. Os Hinos Homéricos afirmam que mesmo enquanto cantava, estava “internamente voltado para outros assuntos”: quando o sol de Apolo se pôs, Hermes entrou furtivamente nas terras do deus e roubou seu gado. Tratou de levar o rebanho para sua casa de marcha a ré, de modo que o rastro deixado parecesse seguir na direção oposta.
A esperteza ágil demonstrada por Hermes tinha muito em comum com espíritos “trapaceiros” de outras mitologias, como o de Ananse do oeste africano ou de Loki, de uma lenda nórdica. Apesar de gostar de pregar peças, Hermes também era capaz de feitos muitos sérios. Por exemplo, ele é tipo como o inventor do ritual do sacrifício, ao abater duas vacas de Apolo, esfolando-as e assando-as. Embora faminto, deixou a apetitosa carne sobre uma plataforma para expiar o roubo.
O caduceu, bastão que Hermes carregava na mão esquerda, conferia sono e cura a um simples toque. As duas serpentes sinuosas, simetricamente entrelaçadas em torno do caduceu, sugerem sua capacidade de equilibrar e reconciliar lados contrários, seja pela alteração de suas formas ou por meio da negociação ou troca — acreditava-se também que Hermes era o deus do comércio.